Coser...

Há cinco anos atrás a minha mãe deu-me uma máquina de costura. Sendo que não consigo encontrar maior escape do que usar as minhas mãos e imaginação para criar, adorei a prenda. Nessa altura estava grávida e confinada ao nosso 4º andar sem elevador e tentei fazer uma peça para a alcofa da Catarina. Nunca me ensinaram a coser à máquina e fui tentando através do manual perceber como poderia fazê-lo. O resultado foi absolutamente desastroso: uma costura torta e completamente cheia de "cabelo", isto é, um emaranhado de fios no avesso da peça que tem um aspecto ainda pior do que se possa imaginar pela descrição. Com esta experiência aprendi duas coisas: nunca passar para grandes projectos sem concretizar alguns menores e nunca subestimar a complexidade de uma máquina de costura. Fui com a peça para a frente como sabia e fiz tudo à mão, guardando a máquina na caixa e pensando pedir uma aula a alguém minimamente entendido na arte antes de voltar a tentar. Só que, como era previsível, a Catarina nasceu, mudámos de casa, a máquina foi para a arrecadação e lá foi ficando... O inevitável remorso de ter algo a que não dou uso lá me assolava uma vez por ano, sempre naquele dia (há um todos os anos, é verdade) em que acordo e não vejo melhor uso para o meu tempo do que limpar e arrumar aqueles oito metros quadrados de caos ordenado. Mas era um remorso pouco persistente, que passava no preciso momento em que apagava a luz da arrecadação e voltava para cima. No entanto, há mais ou menos um ano e meio, trouxe-a para casa. Ficou guardada (desta vez fora da caixa) e sem uso à mesma, mas permitiu-me mentalizar-me de que teria definitivamente que aprender a usá-la. Perto da vista, perto do coração...

Foi aí também que comecei a visitar diariamente o site da Rosa Pomar, A Ervilha Cor de Rosa, e a ficar fascinada pelo quanto de tão belo se pode fazer com tecidos. Apesar de já existir em linha há mais tempo, a Retrosaria ganhou contornos físicos praticamente na mesma altura em que eu descobri o blogue da Rosa. Algum tempo depois, começaram os workshops, nomeadamente um de Iniciação à Costura. Tentei inscrever-me nos primeiros, mas a procura é enorme e estavam a sair quase como pãezinhos quentes... até que finalmente consegui há cerca de um mês. Melhor ainda, inscrevi-me com a minha grande amiga que há tantos anos me acompanha nestes entusiasmos criativos (e em tantos outros devaneios). E assim... foi hoje que finalmente aprendi a domar a famigerada máquina...

Éramos seis, todas com um ar assustado a olhar para aqueles bichos complicados. Apresentámo-nos, falámos um pouco sobre as nossas experiências com trabalhos manuais e ficou assim aberta aquela sessão de quatro horas, que pura e simplemente voaram como sempre voa o tempo quando estamos embrenhados em algo. A Rosa mostrou-nos as funções básicas da máquina, explicou-nos um pouco o processo e deu-nos para as mãos um retalho de ganga para treinarmos os pontos. Consegui enlear os fios todos logo à primeira e aprendi a desmontar uma parte da máquina e tudo... à segunda, voltei a repetir a proeza do "cabelo" e percebi finalmente o que tinha feito mal cinco anos antes... e assim, aos poucos, fomos todas testando os pontos e ficando mais confiantes, passando depois ao chuleado (que impede o tecido de desfiar) e, finalmente, aos retalhos que iriamos usar para fazer uma pequena almofada para os alfinetes.




Aprendemos a uni-los, a cosê-los, a "pensar pelo avesso", a enchê-los com lã verdadeira (que cheira mesmo a ovelha) e fizemos isto...


Foi uma manhã mesmo bem passada, num sítio lindo e com tantos estímulos à criatividade... gostei muito e vou definitivamente continuar a coser à máquina.

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