Era uma vez um blogue

Nos próximos meses, os meus blogues fazem oito anos. Surgiram num momento em que comecei a fotografar mais, a escrever mais, a sair mais. Surgiram num período de mudança e a mudança é sempre boa para fazer fervilhar as ideias. Os blogues eram apenas e só um registo dessas ideias.

O mote deste blogue em particular - o tempo é o que fazemos com ele - vem de um antigo anúncio da Swatch, de há muitos anos atrás; o nome, surgiu porque nessa altura estava próxima de alguém que não sabia dizer nada mais do que "não tenho tempo" mas que, na minha perspectiva, tinha muito mais tempo disponível do que eu. Eu tinha acabado de mudar de emprego, com tudo o que isso implica, estava a afogar-me em trabalho por causa da crise financeira, ainda achava que ia terminar a minha segunda tese de mestrado, tinha casa, família, contas para pagar, mas estava cheia de energia - de pica -  e tinha que lhe dar bom uso! A minha filha começava a ser bastante mais independente, a entreter-se sozinha e a exigir menos de mim pelo que, de algum modo, sobrava-me tempo livre.

Os meses passaram e fui mantendo o blogue entre passeios, trabalhos manuais e culinária. A culinária é o mais fácil de registar porque é um bem necessário no nosso dia-a-dia. Comecei a entrar nuns desafios culinários, a experimentar coisas novas e a dar a conhecê-las a um universo um pouco maior de pessoas. Eu gostava desses desafios egostava sobretudo do feedback. Com o nascimento do meu filho e a necessidade de apoiar a minha filha na escola, voltei a ter menos tempo. Os outros dois blogues foram ficando para trás, mas fui mantendo este apenas como um blogue de culinária. Lá está, gostava do feedback. Infelizmente, já nessa altura, era um blogue que tinha pouco do que havia sido outrora. Eu andava cansada, irritada e já sentia que participar nestes desafios era uma obrigação, sobretudo porque eu própria tinha lançado um projeto nessa linha e já não estava a conseguir dar seguimento. 

No Verão de 2015, há três anos, portanto, decidi parar. Estava exausta, farta. A ideia era a pausa durar apenas até ao meu aniversário, mas a inércia foi-se instalando e, pura e simplesmente, deixei de ter paciência. Ainda escrevi mais alguns artigos, mas nem me dei ao trabalho de publicar mais do que três. Ou não gostava do texto, ou as fotografias estavam más ou, simplesmente, não tinha nada de novo para dizer ou mostrar. Não tinha nenhum prato, nenhuma receita, nada.

Na realidade, nos últimos três anos, perdi um pouco a minha paixão por cozinhar. Continuo a fazê-lo, mas não passo dos básicos. O mesmo com os trabalhos manuais. O mesmo com a escrita. Falta-me tempo? Não. Não falta. Continuei com a fotografia e com o teatro. Mas falta-me vontade. Falta-me paixão.

Este ano foi definitivamente um ano de mudança. Tudo ficou de cabeça para baixo, após uma descida vertiginosa. Depois tudo foi subindo a pouco e pouco até a parada ficar altíssima. Foi um ano extremamente difícil para mim. Agora começa a acalmar, espero. Mas quero focar-me na mudança. Quero usá-la como usei há oito anos atrás para reavivar alguns dos meus projetos. E quero usar este blogue para registar esses projectos. Serei capaz?

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